..."O trabalho fora de casa nunca era visto como uma realização profissional. Era considerado desnecessário, inapropriado para uma senhora de família e muitas vezes como um sinal negativo de que o marido não conseguia suprir sozinho as necessidades básicas da casa e da família. Um vexame! Comentários como: “Coitada, a fulana precisa trabalhar fora…” eram feitos entre amigos e familiares com um tom de compaixão. Outras vezes ouvia-se desculpas para aquelas mulheres que se atreviam à batalha do trabalho fora de casa, porém não se arriscavam a perder seus status de senhoras de família. Tais comentários em geral se expressavam como: “A fulana resolveu trabalhar fora. Na verdade, ela está trabalhando para se distrair. Ela estava tão entediada em casa que precisava de alguma atividade extra para ocupar seu tempo…”
Mamãe faz parte dessa geração. Casou-se com vinte anos de idade com meu pai que, apesar de somente dois anos mais velho do que ela, como todo marido da época que se prezasse se responsabilizou sozinho pelo ganha-pão da família. Mamãe trabalhar fora? Nem pensar! Um assunto que, para sua frustação, era totalmente fora de cogitação. Desde que ficou noiva, mamãe não foi mais encorajada a continuar seus estudos. Também seus planos de trabalhar como professora foram sufocados pela perspectiva de um matrimônio próximo, oferecendo um futuro seguro, sem a necessidade de um esforço maior de sua parte. Tais planos não faziam parte da tradição familiar, nem tão pouco dos costumes da época. Afinal, preparar o enxoval já tomaria quase todo seu tempo!"...
texto original escrito em 29/05/2007